Em agosto de 2021, o Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas, conhecido como IPCC, publicou um novo relatório onde reúne as pesquisas científicas mais importantes dos últimos anos para entender como o clima do nosso planeta está e o que devemos esperar para o futuro. Resumidamente, a conclusão é que o clima do planeta está mudando drasticamente, grande parte dessa mudança é devido à ação humana e ainda não sabemos ao certo boa parte das consequências dessas mudanças.

O LEOC ficou particularmente orgulhoso de ver que alguns estudos desenvolvidos aqui, pelo CARBON Team e outros grupos do laboratório, ou em colaborações internacionais foram utilizados no relatório do IPCC e ajudaram a basear conclusões importantes nele. Fiquem atentos que em breve mostraremos um pouco mais sobre esses trabalhos. Saiba mais sobre o IPCC no site oficial.

Abaixo destacamos os principais trabalhos do grupo utilizados no relatório:

Orselli et al. 2018 - Nesse estudo, Iole Orselli e seus colaboradores descobriram que o sistema carbonato na plataforma continental da Patagônia é controlado principalmente pelos processos de diluição e evaporação, além das trocas de CO₂ entre o oceano e a atmosfera. Eles também observaram que essa região é uma área muito importante para a absorção de carbono de origem antropogênica. Isso tem um impacto direito em duas massas de água muito importantes no oceano Atlântico: a Água Central do Atlântico Sul e a Água Intermediária Antártica. Por isso, a Água Central do Atlântico Sul está se acidificação mais rápido na plataforma da Patagônia do que no Atlântico Sul em geral e a Água Intermediária Antártica está sob risco de subsaturação de aragonita, que é um mineral muito importante para alguns microorganismos marinhos.

 

Monteiro et al. 2020 - Nesse estudo, Thiago Monteiro e outros pesquisadores do LEOC descobriram que as zonas costeiras ao redor da Antártica absorvem proporcionalmente maiores quantidades de CO₂ no verão do que as regiões próximas de oceano aberto. Eles investigaram uma região costeira da Antártica que é considerada muito importante para estudar as mudanças climáticas. Assim, além de identificar uma variação interanual na absorção de CO₂, eles observaram que essa absorção está se intensificando desde 2012. Esses estudos são importantes para sabermos como essas regiões se comportam naturalmente e entendermos a sua sensibilidade às mudanças climáticas.

 

Ribeiro et al. 2018 - Neste estudo, Natalia Ribeiro e outros pesquisadores do LEOC investigaram a eficiência de um método clássico para medir a temperatura do oceano, a partir da equação da taxa de queda de sondas tipo eXpendable BathyTermograph, conhecidas como XBT. Eles descobriram que a equação da taxa de queda do XBT tem um desempenho melhor para medir a temperatura em altas latitudes do que no resto do oceano mundial. Essas descobertas são muito importantes para os estudos oceanográficos no Oceano Austral, pois grande parte dos dados disponíveis nessa região foram medidos a partir de XBT e ainda sabemos muito pouco sobre essa região do planeta.

 

Lencina-Avila et al. 2018 - Nesse estudo, Jannine M. Lencina-Avila, junto com pesquisadores do LEOC e da UPVD (França), investigaram mais de 50 anos de dados do sistema carbonato em uma região importante para fauna do Norte da Península Antártica. Eles queriam saber se esses parâmetros estão mudando devido ao aumento de gás carbônico (CO₂) na atmosfera e descobriram que parte da região investigada já apresenta concentrações de carbono antropogênico preocupantes, indicando uma tendência de diminuição do pH das águas da região. Além disso, simulações de modelo feitas para este estudo mostram que a concentração de carbono antropogênico potencialmente aumentará anualmente na região nos próximos anos se as emissões de CO₂ não diminuirem. Caso não diminuam, as águas da região podem se tornar subsaturadas para a aragonita em menos de 40 anos (até 2060) segundo resultados do modelo. A aragonita é um mineral fundamental para a sobrevivência de microorganismos importantes para a cadeia alimentar da Antártica. A diminuição desses microorganismo ou até mesmo a sua extinção pode causar a desestruturação da rede alimentar que frequenta a região como peixes, focas, pinguins e baleias. Estudos como esse são essenciais para entendermos as possíveis consequências das mudanças climáticas em regiões oceânicas importantes como as zonas costeiras da Antártica.

 

Monteiro et al. 2020b - Os pesquidores do Leoc Thiago Monteiro e Rodrigo Kerr, em parceria com Eunice Machado, também do PPGO, investigaram como o fluxo de gás carbônico (CO₂) entre o mar e a atmosfera muda em cada estação do ano em uma importante região costeira da Antártica. Eles descobriram que durante a maior parte do ano (de abril a novembro) essa região libera CO₂ do oceano para atmosfera, mas em apenas 4 meses (de dezembro a março) ela absosorve quase a mesma quantidade desse gás. Isso acontece principalmente por causa da intensa atividade biológica durante o verão. Além disso, eles observaram que diversos processos oceanográficos influenciam a dinâmica sazonal do carbono, como a cobertura de gelo marinho e a influência de uma massa de água antiga com altas concentrações de carbono. Tudo isso torna essa região bastante sensível às mudanças climáticas que estão sendo observadas na Antártica e entender como esses ambientes se comportam naturalmente é fundamental para sabermos como eles serão impactados por essas alterações.

 

Henley et al. 2020 - Esse estudo liderado pela Dra. Sian Henley, da Universidade de Edimburgo, e com colaboração de integrantes do LEOC também foi um dos artigos citados no último relatório do IPCC. A Dra. Sian Henley reuniu pesquisares de vários lugares do mundo, incluindo o Dr. Rodrigo Kerr e o doutorando Thiago Monteiro do LEOC para investigar as principais alterações biogeoquímicas que o Oceano Austral está sofrendo. Eles fizeram uma revisão da literatura científica e reuniram um junto de dados novos sobre diversos aspectos oceanográficos, tornando o trabalho com um caráter profundamente interdisciplinar. Diversos aspectos foram abordados, desde a utilização do ferro por microorganismos na superfície do mar, até o impacto da acidificação em organismos que vivem no fundo do oceano. E eles descobriram que o impacto das mudanças climáticas já estão sendo observados, mas a previsão é que eles sejam agravados nas próximas décadas. Além disso, o estudo descreve o quão complexo o oceano Austral é e a impotência de mantermos os esforços em estudar essa região do fundamental para o equilíbrio climático do nosso planeta.